Número total de visualizações de páginas

terça-feira, julho 18, 2006

neve a derreter


escorrem-me os dias pelos dedos da mão, como liquido baço cujo movimento não consigo impedir. uma espécie de gravidade, sim, gravidade existencial...
escorre-me o suor pelo corpo, pelo cabelo, já desisti de dizer que tenho calor. não consigo andar na rua, liquefaço-me!
derreto-me no calor, nos dias, nas burocracias, nos simplex e nos papéis.
coisas difíceis, chatas, aborrecidas, novelinhos e torvelinhos, cirandando, bailando uma dança sobre uma batuta que não é a que me apetece, mas é a disponível.
é tudo urgente, tudo já deveria estar feito.
eu própria já deveria estar feita e desfaço-me
agora entra-me uma brisa pela janela aberta.
só a noite me concede um bocadinho sólido, que agarro nas mãos, apalpo e aperto, para contrariar a gravidade. para que me não desapareça outra vez, assim tão depressa.
de manhã, o sólido transmutar-se-à outra vez em líquido, baço e pesado a escorrer-me pelas mãos. e não consigo pará-lo!!!
apetece-me uma paisagem de neve!!! ou uma cerveja estupidamente gelada.

1 comentário:

xavier ieri disse...

Traz-me à lembrança os dias, não líquidos, antes viscosos, de um calor húmido, colado às carnes e às vestes.
Dias em que o desejo era vencido pela repulsa viscosa do calor, que maior prazer era a inação e insuportável o beijo por demasiado quente e húmido.
O local era um trópico. Não o do Miller, mas africano.
Já lá vão uns anitos. E, todavia, tudo é ainda tão fresco.

Neve a derreter tem um nome: Primavera!

Bj, Maria