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quinta-feira, junho 29, 2006

escrivão

há sitios onde anoitece assim. de mansinho, sem se dar por isso, a noite vai caindo e abraçando aqueles que permitem o abraço. depois vem uma brisa fresca, que refresca a alma e ajuda a ajeitar as ideias na cabeça.
são dias de privilégio, locais de memória ou apenas representações ...

às vezes, rasgamos o véu que vem das origens do mundo e quedamo-nos, ali, assim, de espanto imóveis ...às vezes

é a soberania dos ciclos. das horas, dos dias, das noites e das outras formas de contar a vida.

e o dia amanhece, em paz!

preciso de férias ... urgentemente, como dizia o Eugénio.
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quarta-feira, junho 28, 2006

pescador de pérolas

vou tirar os sapatos, entrar água adentro até encontrar as pérolas escondidas no fundo do mar. quando as tocar com os dedos, ameijoarei as mãos e trago-as mãos fora de água até terra seca, na beira do lago. A vida é uma arte desordeira para os apanhores de pérolas.
"Hoje eu tive um pesadelo e acordei ... com medo"

sexta-feira, junho 23, 2006

Aos amigos!!



Hoje apetece-me um bocadinho de lamechiche...
Esta casa transformou-se numa espécie de abrigo de amigos queridos. Telefonam a desoras, depois da cozinha arrumada, querem vir comer os restinhos do jantar, se os houver, ou um pedaçinho de pão, queijo e vinho, sempre garantido. Contam histórias, falam de si, umas vezes rimos, outras choramos, porque a vida é isso mesmo, um misto de amores, raivas, lutas e calmas que o tempo concede.
Gosto de ter transformado esta casa neste espaço onde os amigos aparecem sem convite, pressentindo eu que se sentem sempre convidados. E são-o, de facto! A partilha é uma alegria maior! A maior, porque a mais humilde e a mais compensadora. Maior que essa só a de ter um companheiro com quem construí esta casa abrigo de todos, quantos cá se queiram abrigar por um pedaço de sorriso e uma troca de palavras e afectos.
Obrigada aos amigos que vão aparecendo. A todos! Os especialmente convidados, os que aparecem sem convite e aqueles que sei que estarão sempre do outro lado. São os "amores secretos" que me chegaram hoje pelo correio em forma de livro.
Os amigos ... são quase a melhor coisa dos dias que correm. Aqueles que não desapareceram na poeira das nuvens e que o tempo conservou sem frascos de formol, com açucar e afecto.

domingo, junho 18, 2006

Pérolas aos poucos

Rumamos quase sempre a sul. Remamos quase sempre a favor da maré!
Ontem rumámos a norte, contra a corrente. Uma espécie de contra ciclo, de que só me apercebi depois.
Fomos apanhando pérolas pelo caminho...No panorâmico a ver um mondego deslumbrante que se espraiava ou riava perante olhos e almas a precisar daquele alinhamento que as casas com janelas todas viradas para'o rio proporcionava. Queria muito voltar àquele sitio, em boa companhia. Depois de lá ter estado há uns bons anos atrás, li um livro e imaginei que toda a história se situava por ali. É essa a vantagem da literatura, podemos sempre imaginar queía narrativa se passou onde nós quisermos. O Barthes e o Todorov têm escritos sobre a verosimilhança, mas eu ignorante dessas teorias achei verosimil aquele contexto para aquela história.
Depois rumámos ao Bussaco, ao colosso de uma serra, onde se paga para entrar. O dia acabrunhava-se a cada curva da estrada e o verde impunha-se, incontornável. O resto foram pérolas apanhadas e guardadinhas agora na memória dos viajantes. Sempre quis passar uma noite ali. Não percebemos muito bem onde estamos ... pode ser um qualquer canto do mundo e isso às vezes é quanto basta. Mas é tão inspirador tudo aquilo, que se tivesse pena fácil, escreveria um romance inventado por aquelas paisagens, tal a riqueza de tudo o que acontece, sem acontecer. Sim, porque não acontece mesmo nada. O acontecimento é estar lá.
Da sala de jantar, enfeitada com fantasias, acho que neo góticas da mais estranha estirpe e da mais invulgar beleza, dificil de situar nos canônes da arquitectura e da arte em geral, sentia-se o anoitecer, que aconteceu muito tarde. Estamos a chegar ao equinócio e isso sentia-se fortemente. Da janela, avistava-se e envolvia-nos uma mancha verde, que se ia esbatendo em escuro, até perder a cor e deixar muito devagarinho cair a noite que roubou o verde e o cinzento luminoso que restava de céu. Lá dentro, os candelabros acesos, as janelas que contavam histórias que o Ulisses também podia ter contado e os frescos das paredes concediam aos presentes atentos um prazer estranho, misto de espanto, bem estar e uma excitação frenética não compaginável com a desejável quietude do lugar. Aquilo não relaxa, ao invés, estimula os sentidos todos.
Por fim adormeci ... e acordei quando o dia acordou, com uma chilreada sinfónica quase atonal.
Era domingo ... impunha-se o rumo ao sul.
Já estou em casa, mas entre o Bussaco e Lisboa ainda tenho uma data de pérolas que deixo para me lembrar, escrevendo, amanhã...ou para outro dia qualquer.
maria

quinta-feira, junho 15, 2006

em volta das folhas

11/06/06

O tempo escorre a uma velocidade não mensurável por instrumentos medidores de tempo comuns. Lá fora o calor é insustentável. Aqui dentro neste meu cantinho de paz e calmaria, ouve-se Debussy baixinho e o quase silêncio é cortado pelas poucas vozes humanas que vão recortando este estar. Está-se bem! São 3h de uma tarde muito quente neste meu Alentejo. A passarada chilreia por perto, aninhada de certeza nos ramos das árvores do quintal. Consigo quase adivinhar os ramos onde se abrigam, pois conheço estas árvores deste meu quintal desde que de mim me lembro. Eram muito mais as que existiam na minha infância. Tantas mais...
Por esta altura do ano e com este calor, as frutas amadureciam e podia comer-se à disposição de um gesto de mão ou de uma subidela à àrvore, ameixas, pêssegos, peros, damascos, uvas e até nêsperas. Os figos vinham mais tarde. Passei horas naquela figueira. Não tinha uma casa na árvore, tinha vários lugares de estar em várias árvores ... todos secretos, só meus. Ao fundo do quintal, perto do poço e do tanque, impunha-se uma nespereira, de enormes e tronchudas folhas que eu inventava de barquinhos serem e que punha a navegar, regueira das regas afora, passeando o quintal e percorrendo os caminhos da água que ladeavam as várias leiras de legumes e afins que a minha avó plantava. Era um rio inventado, com estradas que abriam e fechavam, ao comando da mão ou da enxada que afastava a terra. Um sistema de rega que mapeava o quintal todinho. Isto acontecia sempre ao final da terra, quando do poço brotava água que enchia o tanque e no tanque se abriam umas portadas à liberdade da água. Depois, era fechar e abrir canais, como num labirinto de água feito ... com uma folha de nespereira e eu atrás dela, a darmos juntas a volta ao mundo.
Restam poucas árvores neste quintal, agora. Se um dia puder, volto a plantar nele uma nespereira para ensinar aos meus netos, se os tiver, a dar a volta ao mundo num barco/ folha de nespereira, como a minha avó me ensinou.

sexta-feira, junho 02, 2006

"Una giornata particolare"


Criei este blog com o firme propósito de me ir obrigando a escrever sobre as minhas coisas. É mais responsável a escrita que se faz num espaço publico, que neste caso também é privado, ou relativamente privado. Mas sobre o público e o privado já muitos notáveis escreveram e eu nem sempre respeito os canônes, ao que me acusam.
O objectivo agora, é ter umas conversas com o Junho que aí vem. Já faz muito calor!
Queria usar as palavras, o seu estado, não apenas no sentido retórico, mas aplicar estas reflexões/estórias/imagens/discursos, aos códigos da minha realidade. Como o real é sempre a representação que fazemos de qualquer coisa, continuo por aí a costurar sonhos. É no sonho que inventamos as verdades. Há mil estórias à solta, que vou agarrando, digerindo e fruindo como sei, posso e quero. Se não existisse o espaço de sonho, nada seria real.
E as palavras são isso mesmo. Velhas personagens com as quais povoamos a vida.
A Margarida hoje fez anos. Não fui ao jantar. Pelas não palavras nos desentendemos. Mas salvei a rainha a tempo... Fui dar-lhe um abraço apertado, tomei um café e bebi um saké..quentinho. Parabéns à Margarida, de quem muito gosto e ainda bem que ela sempre soube disso.