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domingo, setembro 24, 2006

sombras e sobressaltos


colavam-se-lhe as letras à pele, as palavras aos olhos.
as teclas aos dedos, o rabo quieto na cadeira, que tinha rodas mas não andava.
e assim ficava, dias e dias a encher-se de letras e palavras.

um dia, de manhã bem cedo, foi encontrada na floresta, descalça e nua, passeando sobre um manto de flores cor de rosa que se tinham despencado das árvores.

depois, já muito tarde adormeceu, sentada na cadeira com rodinhas, depois de ter rodopiado o dia e amansado a noite.

mas isto foi há muito tempo ... tanto que já nem me lembro. só sei que o dia seguinte era um domingo.

quarta-feira, setembro 20, 2006

flores desenhadas

apetecem-me flores redondas, grávidas e gordas.
Bonitas, coloridas, entrelaçadas, abraçadas e confundidas.
Amanhã vai chover ! O Outono deve começar amanhã!

quinta-feira, setembro 07, 2006

a araucária


Era uma vez uma araucária! É assim que começam as histórias com final feliz. Esta não terá final feliz, de certeza!!!
A araucária, assim chamada porque ninguém a baptizou com apelido, vivia confortável e feliz num jardim de uma casa, onde viviam algumas pessoas. Era uma árvore de grande porte, tinha crescido depressa e bem, tinha uma casota para passarinhos que alguém lá tinha instalado e que a embelezava sobremaneira. Tinha ramos portentosos, muito verdinhos e era uma espécie de marca de um certo lugar. O jardim da araucária tinha uma casa semeada. A casa era grande, com muitas mais pequenas casinhas lá dentro. Nelas viviam habitantes fixos, habitantes móveis e muitos visitantes. De vez em quando estranhava algumas mudanças, umas pessoas que deixavam de aparecer, outras que começavam a visitá-la com regularidade. (Eu, aqui e agora narradora vestida de araucária, sou dos habitantes novos e não regulares, mas isso não me retira a qualidade de amante da araucária.)
Ela era uma espécie de grande pedra numa montanha, um menhir, um cromeleque, uma coisa sagrada que de tão grande e amada, ninguém lhe suspeitaria um fim próximo. Mal ela sabia do devir...
Mas pelas bandas do lugar da araucária, existiam também outras pessoas ... como naquela história do rei leão substituído por férias ... que limavam as unhas por mariquice! Pois! Assim foi! Leão de férias, ou melhor, habitantes regulares e irregulares do jardim da araucária que também tinha uma casa com outras casas lá dentro...em vez de limar as unhas, limaram a araucária.
Cortaram ramo a ramo, a araucária a chorar, a gemer e a pedir que a deixassem viver, mas os senhores que não são da casa ... impiedosos e perante o poder da araucária decidiram decepá-la, tirar-lhe membro a membro, ramo a ramo o seu porte altivo e garboso. Cortaram o cabelo ao Sansão, deixaram-lhe um "tufo à punk", ridículo a espreitar não sei para onde, deitaram para o lixo o seu adorno casa de passarinhos e vivem agora felizes imitando o leão substituto.
Consultei uma especialista, para fazer o diagnóstico de uma araucária em semelhante estanto e o veredicto foi departir o coração: a árvore vai morrer!!!
Dedico estas palavras mal alinhavadas aos amantes da araucária: Ao Zé, à Rosarinho e às meninas e aos anónimos contempladores de uma araucária que existiu.
Proponho que em vez de uma, se plantem 3, número bonito e de certeza mais difícil de destruir!
E porque as palavras doem, por aqui me quedo!!!

segunda-feira, setembro 04, 2006

Perdas

Pelo caminho vamos perdendo aqueles que fizeram parte da nossa caminhada. É o ciclo da vida, sabemos todos isso desde o principio. Cada vez que perdemos alguém, ficamos mais pobres. Fica a memória a jogar às cartas com a consciência, essa coisa coisa que pode fazer doer, ou não.
Pelo caminho, ficou-me hoje o Compadre António.
Construiu antes de eu nascer o cinema e a igreja da minha terra ... já lá vão muitos anos, nem sei quantos, que as monografias dos lugares as não guardo na memória.

Em jeito de homenagem sem jeito, por aqui fica a minha velinha acesa, para lhe guardar o sorriso e as boas memórias. Ainda bem que lhe tirei esta fotografia no último almoço que partilhámos.

Com ele andei de burro por terras de Paderne e ouvi estórias de lindas mouras que dormiam numa cisterna que tinha em sua casa. Guardo o fascínio da cisterna, os lençóis estendidos de alfarroba a secar, as amendoeiras carregadinhas de flor e depois de amêndoas que comia transformadas em deliciosos bolos. Guardo o cheiro do pão amassado pela Mãe Mina, e lembro-me de a ver atarefada com pás e paus a tirar do forno um pão que sabia pela vida e exalava odores que ainda hoje me despertam. Era de certeza o melhor pão do mundo como boas são as minhas memórias de férias pela serra algarvia. O lugar ainda existe lá p'ros lados da Cerca-Velha perto do Castelo da moura que morreu de saudades do seu Abencadam!
Até mais ... Posted by Picasa

sábado, setembro 02, 2006

coisas paradas

Andei por aí...por aí!
De norte a sul deste país que é o meu, mais ou menos alheia ao que nele se ia passando.
Não sei quantos hectares de floresta arderam este ano, quantos bombeiros morreram a apagar fogos, quantos cidadãos livres e com esperança de vida longa se finaram nos corredores de alcatrão deste país que é o meu. Não sei e não quero saber!
Andei por aí...comigo, com os meus e com mais uns outros que o não sendo, vão ficando a ser ...
Andei por aí, desde Trás os Montes atá ao sul de Odeceixe com uma longa paragem pelo meu Alentejo, aquele sitio onde as coisas paradas me olham e me reconhecem.
Agora, sabe-me bem o sossego da casa, o domingo que amanhã ainda será e segunda feira é só mais outro dia. E não me apetece escrever aqui nenhuma das coisas que escrevinhei nos entretantos e que fui achando que dariam um "granda post".
Foram as mais estranhas férias de que me lembro, mas voltei sem pernas partidas e sem bronze, que isso é só para alguns.
As férias deixam-nos sempre este cheiro entranhado e esta vontade que o não é bem de que tudo recomeçe outra vez! Uma espécie de pauzinho na engrenagem ... nesta engrenagem das coisas paradas.
"É preciso que tude mude, para que tudo fique na mesma" Lampedusa