
Pronto!!! Finalmente acabou o futebol. Aquela "coisa" estranha que aglutina as pessoas, que as leva a enfeitar o país de bandeiras nas janelas, prática certamente recuperada da religiosidade e da veneração dos santos que em palanques enfeitados de flores, atravessam em ombros ruas de aldeias e cidades deste território, desfilando por ruas onde as colchas se estendem nas janelas. Assim parece agora esta cidade. O palco de uma grande procissão.
Vai passar a procissão!!!!
Mas os santos não chegaram para o milagre. Era só mais um bocadinho e o país ficava suspenso na esperança por mais uns diinhas. Mas o santo não milagrou.
Sou muito distraída com futebóis. Quando há pouco tempo atrás comecei a ver bandeiras nas janelas, pensei que tinha andado distraída e que as ditas cujas lá estavam desde os gloriosos tempos do euro, algures em 2004.
Depois, fui olhando com mais atenção para as janelas desta cidade e comecei a perceber que as bandeirinhas não estavam desbotadas, nem rasgadas, ao invés, pareciam mesmo novas, cores fortes que o sol ainda não tinha engolido. Os pagodinhos chineses a fingir de castelinhos, que os chineses sabem lá o que é um castelo. De repente aí estava outra vez o país a viver do futebol.
Frustada a esperança depositada nos santos da procissão, amanhã vão todos mais tristes para o trabalho, de certeza! Hoje, andei na rua atenta aos rostos dos meus companheiros de cidade. Havia uma agitação estampada no rosto, um brilho incomum, ao final das tarde já muita gente andava fardada de verde e vermelho pelas ruas. Eram de certeza aqueles que tinham a bandeirinha na janela.
Cá em casa houve jantarada, para ver o jogo. A condição era a de abrir o champanhe, festejar as vitórias da vida e brindar aos amigos. Independentemente do resultado.Assim foi. A garrafa de champanha aguarda agora, vazia, no contentor amarelo dos reciclados da minha cozinha, o trnasporte para o vidrão. Aguarda vazia! Como vazios estarão amanhã os rostos das pessoas que hoje estavam cheios de esperança e de sorrisos.
Recuso-me a aceitar o futebol como único acontecimento capaz de mobilizar os portugueses. Amanhã vou para a rua com um sorriso de esperança, a imaginar que uma outra qualquer bola se poderá dar a esta gente para sair desta letargia estrutural e paralisante. Abra-se um debate nacional para perguntar aos portugueses o que é que, para além do futebol os faz ... acontecer!!!!
"João, Francisco, Maria, cada qual um nome tem, quando lhes dou os bons dias, ninguém responde a ningueêém"