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segunda-feira, abril 03, 2006

no caldeirão ...

O meu imaginário infantil, o meu e o de muita gente, acho ... está povoado de caldeirões, onde as bruxas cozinhavam estranhos preparados, que depois usavam ao sabor da imaginação. Tive sempre medo de um dia ir parar ao caldeirão de uma bruxa...e na minha infância no Alentejo, não havia nem televisão nem Harry Potter... o caldeirão também podia ser da fada, da feiticeira boazinha. Passei a infância a cozinhar ideias no caldeirão dos dias e das elementos que me iam sendo fornecidos, a par com os imaginados, os inventados, alguns proibidos.
Depois com o liceu, os livros e o crescer, o caldeirão foi ficando cada vez maior, mais requintado, mais confuso, mais colorido, até que o guardei o mais arrumadinho que soube e pude num cantinho da memória. Ainda hoje vou ao caldeirão, retirar ideias e cores lá depositadas, que tento, nem sempre com sucesso, dissecar ... e pôr ao sol. Enfim...exercícicos plásticos e aplásticos, que às vezes nos cruzam os dias.
Não fui à Finlândia com o Sócrates ... mas fui com outros filósofos famosos. E com o Descartes e o Platão aprendi algumas das cores que se misturam no meu caldeirão. Este caldeirão de bruxa, à séria, não o descobriu o Sócrates na Finlândia, mas descobri-o eu. Num sitio onde no Verão só se chega de barco e no Inverno só se chega de jeep por cima do gelo que gela o Báltico transformando-o em estrada de branco vestida.
É que hoje andei a mergulhar no caldeirão. E concluí (sempre provisoriamente) que me falta vida para arrumar o conteúdo do caldeirão. Que continuo a ter medo das bruxas e a gostar das fadinhas boas. Enquanto não doer muito.
maria
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2 comentários:

xavier ieri disse...

O teu caldeirão faz-me lembrar o meu.
Ou seja, da minha bisavó, mas esse tinha três pernas e uma tampa.
Fazia "sopa de feijão e hortaliça" que era um espanto.
Talvez por isso não tivesse tido nunca dificuldade em comer a sopa toda.
Lembro-me das tardes chuvosas, morrinhentas e frias lá fora, mas ali, junto à lareira e ao caldeirão cantarolando pela batuta do vapor que se escapulia cumprido o dever condutor, era um quentinho directo à alma.
Ainda hoje, penso que a grande dicotomia se traça junto da natureza: Mais próximo ou mais afastado na natureza. Da natureza Natureza! Do musgo e dos pássaros, do vento e da terra molhada.
Aí se conquista a civilização, o bem mais precioso do ser humano.
Não se pode confundir com o universo artificial que o Homem criou, não para seu benefício pessoal, mas antes e apenas como consequência, como subproduto, da sua actividade estupidamente hegemónica face à Natureza.
Subproduto da estúpida criação de necessidades artificiais como combustível da ganância e do poder.
Voltar à Natureza é preciso.
Voltar ao caldeirão.

M.M. disse...

Maravilhoso caldeirão.