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domingo, dezembro 31, 2006

o balão verde

Saí de casa cedo, pisando com prazer as folhas que tresmalhavam debaixo dos pés. Estava um frio suportável, daqueles bons que não entram no corpo, só gelam o nariz. Fui à bica, tomei a bica e no regresso, de nariz no ar, o meu olhar cruzou-se com um balão que atravessava a estrada. Um balão verde, vulgar, em formato de balão, de cor verde, verde, sem mais adjectivos e de formato tipico de balão, com um fio pendurado...esvoaçando errante de um lado para o outro da rua. Entrou na árvore, ainda vestida com algumas folhas já muito amareladas, aquelas que ainda não tinham caído no chão para formar o tapete que há bocadinho tinha pisado. O balão verde entrou na árvore, por baixo. Fiz meu o pensamento da Matilde...se o balão sair da árvore por cima, o ano novo correrá bem.
" Se chegar primeiro à curva o Mameck voltará vivo da guerra"
O balão, libertou-se heróico da árvore, subiu por ela e saiu ileso, depois da batalha contra troncos e folhas quase secas, projectando-se de novo livre e solto pela rua. Tornou a atravessá-la e numa batalha serena conseguiu livrar-se dos vidros onde embateu e pelos quais se enredou, contornando o prédio da esquina. Foi às apalpadelas, entre vidro e parede e finalmente libertou-se projectando-se para o céu, com rota pré traçada.
Fiquei imóvel na rua, a seguir o balão com o olhar ... até ele se transformar num ponto pequenino, muito longe, no imenso do céu entre o azul e o cinzento. Fiquei imóvel na rua seguindo a rota até que o ponto pequenino desapareceu.
O Mameck voltará vivo da guerra!!!
2007 será um bom ano novo!

maria

4 comentários:

xavier ieri disse...

Pareceu-me serena.
Serena, com uma expressão curiosa, expectante.
Olhava uma árvore, ali plantada no meio do passeio defronte.
Parei; e de longe fiquei a observar-lhe os gestos, a pequena ansiedade no olhar escuro, profundo.
Nisto, um balãozinho verde, verde de esperança, saiu pelo topo da árvore e esvoaçou em direcção ao céu.
A sua cara iluminou-se, com um sorriso aberto.
Fez meia-volta, empinou o nariz e continuou, passeio afora, com passos firmes.
Na rua deserta, pareceu-me ter olhado para mim, dividino aquele momento mágico, numa partilha anónima.

Alice disse...

Eu tive menos sorte - o balão que encontrei por estes dias era cor de laranja... (é mesmo verdade) e não entrou por nenhuma árvore...

Alice disse...

então, amiga, este blog encalhou num balão verde?

xavier ieri disse...

Quero dizer a todos, ou talvez a ninguém, o quanto do meu encanto pela vida.
O gosto pelas coisas simples mas profundas.
A minha teimosia em crer na natureza humana.
E em amar, teimar em amar. Mas já não sei quem...
O aconchego da minha almofada nocturna ou do meu recanto à beira-mar, o marulhar das ondas, já não são solidões, mas antes companhias, cumplicidades...
Lanço os marcos da vida, balizo-me pela segurança da navegação à vista.
Já não confio em bússulas.
Acredito num Deus só meu e algures por aí sei que anda um balãozinho verde com a minha esperança dependurada...