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quinta-feira, junho 15, 2006

em volta das folhas

11/06/06

O tempo escorre a uma velocidade não mensurável por instrumentos medidores de tempo comuns. Lá fora o calor é insustentável. Aqui dentro neste meu cantinho de paz e calmaria, ouve-se Debussy baixinho e o quase silêncio é cortado pelas poucas vozes humanas que vão recortando este estar. Está-se bem! São 3h de uma tarde muito quente neste meu Alentejo. A passarada chilreia por perto, aninhada de certeza nos ramos das árvores do quintal. Consigo quase adivinhar os ramos onde se abrigam, pois conheço estas árvores deste meu quintal desde que de mim me lembro. Eram muito mais as que existiam na minha infância. Tantas mais...
Por esta altura do ano e com este calor, as frutas amadureciam e podia comer-se à disposição de um gesto de mão ou de uma subidela à àrvore, ameixas, pêssegos, peros, damascos, uvas e até nêsperas. Os figos vinham mais tarde. Passei horas naquela figueira. Não tinha uma casa na árvore, tinha vários lugares de estar em várias árvores ... todos secretos, só meus. Ao fundo do quintal, perto do poço e do tanque, impunha-se uma nespereira, de enormes e tronchudas folhas que eu inventava de barquinhos serem e que punha a navegar, regueira das regas afora, passeando o quintal e percorrendo os caminhos da água que ladeavam as várias leiras de legumes e afins que a minha avó plantava. Era um rio inventado, com estradas que abriam e fechavam, ao comando da mão ou da enxada que afastava a terra. Um sistema de rega que mapeava o quintal todinho. Isto acontecia sempre ao final da terra, quando do poço brotava água que enchia o tanque e no tanque se abriam umas portadas à liberdade da água. Depois, era fechar e abrir canais, como num labirinto de água feito ... com uma folha de nespereira e eu atrás dela, a darmos juntas a volta ao mundo.
Restam poucas árvores neste quintal, agora. Se um dia puder, volto a plantar nele uma nespereira para ensinar aos meus netos, se os tiver, a dar a volta ao mundo num barco/ folha de nespereira, como a minha avó me ensinou.

2 comentários:

Alice disse...

É verdade, há quanto tempo não me lembrava dos barquinhos, como gôndolas, a navegar nos canais...
e da figueira, mais de uma certa "obra" ao lado dela, que nos valeu uma boa reprimenda.

Elsa Gonçalves disse...

Fuinhos na paêde!!! E pumba!!!