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domingo, junho 18, 2006

Pérolas aos poucos

Rumamos quase sempre a sul. Remamos quase sempre a favor da maré!
Ontem rumámos a norte, contra a corrente. Uma espécie de contra ciclo, de que só me apercebi depois.
Fomos apanhando pérolas pelo caminho...No panorâmico a ver um mondego deslumbrante que se espraiava ou riava perante olhos e almas a precisar daquele alinhamento que as casas com janelas todas viradas para'o rio proporcionava. Queria muito voltar àquele sitio, em boa companhia. Depois de lá ter estado há uns bons anos atrás, li um livro e imaginei que toda a história se situava por ali. É essa a vantagem da literatura, podemos sempre imaginar queía narrativa se passou onde nós quisermos. O Barthes e o Todorov têm escritos sobre a verosimilhança, mas eu ignorante dessas teorias achei verosimil aquele contexto para aquela história.
Depois rumámos ao Bussaco, ao colosso de uma serra, onde se paga para entrar. O dia acabrunhava-se a cada curva da estrada e o verde impunha-se, incontornável. O resto foram pérolas apanhadas e guardadinhas agora na memória dos viajantes. Sempre quis passar uma noite ali. Não percebemos muito bem onde estamos ... pode ser um qualquer canto do mundo e isso às vezes é quanto basta. Mas é tão inspirador tudo aquilo, que se tivesse pena fácil, escreveria um romance inventado por aquelas paisagens, tal a riqueza de tudo o que acontece, sem acontecer. Sim, porque não acontece mesmo nada. O acontecimento é estar lá.
Da sala de jantar, enfeitada com fantasias, acho que neo góticas da mais estranha estirpe e da mais invulgar beleza, dificil de situar nos canônes da arquitectura e da arte em geral, sentia-se o anoitecer, que aconteceu muito tarde. Estamos a chegar ao equinócio e isso sentia-se fortemente. Da janela, avistava-se e envolvia-nos uma mancha verde, que se ia esbatendo em escuro, até perder a cor e deixar muito devagarinho cair a noite que roubou o verde e o cinzento luminoso que restava de céu. Lá dentro, os candelabros acesos, as janelas que contavam histórias que o Ulisses também podia ter contado e os frescos das paredes concediam aos presentes atentos um prazer estranho, misto de espanto, bem estar e uma excitação frenética não compaginável com a desejável quietude do lugar. Aquilo não relaxa, ao invés, estimula os sentidos todos.
Por fim adormeci ... e acordei quando o dia acordou, com uma chilreada sinfónica quase atonal.
Era domingo ... impunha-se o rumo ao sul.
Já estou em casa, mas entre o Bussaco e Lisboa ainda tenho uma data de pérolas que deixo para me lembrar, escrevendo, amanhã...ou para outro dia qualquer.
maria

1 comentário:

xavier ieri disse...

Ao blog assentaria melhor o título: "estado das emoções".
A benefício de todos, continuas a fazer do blog uma extensão da tua vida assente numa determinada praxis.

Contrariamente, eu faço do meu blog uma outra coisa, nada condizente com a minha práxis, nem com a minha postura perante a vida, que não é certamente tão cínica como do blog resulta.

Por isso, me parece que o teu blog é uma plataforma de partilha.

O meu blog é uma gaveta catártica.
É aquilo a que chamo a "gavetas das merdas".

Nem bem sei (ou talvez sim) porque senti dever dizer isto.
Afinal, importante é que se saiba orientar bem os ócios.

Fica bem.